13 de maio de 2006

A condição de existência humana – uma perspectiva nietzscheana

Inspirado em digressões filosóficas de meus caros professores da Faculdade de Direito do Recife (Torquato Castro Jr. e Alexandre da Maia), resolvi escrever algo sobre a condição humana e a razão da existência.

Sempre fui bastante cético e pessimista com relação à condição humana. Talvez inspirado em Machado de Assis e a sua visão negativista do mundo, da sociedade e do homem em si. Mesmo o ser humano mais inofensivo e pacífico em sua aparência pode ocultar uma personalidade contraditória e até mesmo ameaçadora.

A sociedade humana é uma tentativa e não um contrato, como muitos queriam. É uma tentativa de existência, sobrevivência, inclusão, reconhecimento e aceitação. Uma tentativa pesada até para o mais forte, indecifrável até para o melhor intérprete. As relações humanas são complexas demais, são incertas demais e o mundo nos é apresentado em múltiplas versões das quais ninguém pode se gabar de possuir uma compreensão melhor do que os outros.

Entretanto, é simples exemplificar a fraqueza de nossa sociedade. A mentira e a farsa do ideal foram até agora a blasfêmia contra a realidade, as pessoas fantasiam o mundo, um mundo imaginário, um mundo possível, e dizem: “esse é o meu mundo, ele deve ser assim”, mas esquecem da realidade ao redor do seu mundo; muitos encontram-se jogados à própria sorte, não são vistos ou ouvidos e o homem se encarrega de fazer do lobo um cão e do próprio homem o melhor animal domesticado pelo homem.

As pessoas não ouvem umas às outras; possuem um “segundo” rosto, e até um “terceiro” rosto, usam máscaras, escondem-se; por suposta superioridade, assumem atitudes prepotentes ou de desprezo com os outros; não sentem constrangimento por seus atos censuráveis; costumam tomar a si mesmas como referência para tudo; fingem, dissimulam os verdadeiros sentimentos, intenções; desejam sempre gozar ou possuir o que é gozado ou possuído por outrem; indignam-se, encolerizam-se, vingam-se e punem em razão de alguma ofensa; são movidos pela concupiscência, cobiçam bens materiais e desejam intensamente os prazeres sensuais; admiram o próprio mérito, e possuem excesso de amor-próprio; avaliam a si mesmos enaltecendo com exagero.

Senhoras e senhores, “Eis o homem”: Arrogância, Cinismo, Egoísmo, Hipocrisia, Inveja, Ira, Luxúria, Orgulho e Vaidade. É o retrato de nós mesmos, retrato de nossa realidade. Fugir dessa realidade é covardia, é fraqueza, não devemos jamais poupar a nós mesmos. Devemos ter a dureza e a frieza em nossos hábitos para que possamos permanecer contentes frente às duras verdades da nossa realidade.

Eis a verdadeira condição humana, “aquele que não quiser morrer de sede entre os homens deve aprender a beber em todos os vasos, e o que quiser permanecer puro entre os homens deve aprender a lavar-se em água suja”(Nietzsche). Somos todos animais, unidos pela sobrevivência. A “pureza” da Moral - limpa e cristalina - aprisiona alguns e transforma outros em porcos.

Diante da realidade de nossa condição humana, questionamo-nos: Qual a razão de nossa existência? Seria o homem apenas um equívoco de Deus? Ou seria então Deus apenas um equívoco da fraqueza, do cansaço e do sofrimento do homem diante de um mundo antagônico? Será que simplesmente devemos abandonar tudo, não aceitar absolutamente mais nada, não tomar mais nada, não ingerir nada, não levar mais nada para dentro de si – não reagir?

O homem, em sua existência, está condenado à liberdade, não escolhemos nem optamos por nascer, mas somos livres em nossas decisões por toda a vida. E a vida “é um grande palco, onde somos meros atores, atirados à vida sem nenhum roteiro para seguir, apenas usamos máscaras e representamos papéis”(Jostein Gaarden).

Contudo, a dúvida permanece: Qual a razão da existência humana? Pouco importa. Não é a dúvida, é a certeza que nos enlouquece. “Nós engordamos todos os outros seres para que nos engordem; e engordamos para engordar os vermes.”(Shakespeare) “Para quê queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois?”(Machado de Assis)
10.03.2006

Um comentário:

hjahag disse...
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