15 de maio de 2006

Ataques do PCC: organização criminosa x desorganização do poder público

As retaliações do Primeiro Comando da Capital (PCC) à tentativa das autoridades de isolar os líderes da facção criminosa já causaram, até o momento, mais de 70 mortes. Informações extra-oficiais apontam para mais de 90 mortes, e os números tendem a aumentar. Segundo informações das agências de notícias, as ações criminosas, iniciadas na última sexta-feira (12/05), já contabilizam 150 ataques no estado de São Paulo. Os principais alvos dos ataques foram delegacias, postos, veículos militares e policiais em trabalho ou de folga, no entanto, mais de 10 agências bancárias já foram atingidas e mais de 70 ônibus foram incendiados, números que também tendem a aumentar. Além dos ataques, 45 penitenciárias ainda mantêm rebeliões simultâneas de presos e o número de reféns em poder dos presos é de cerca de 196 pessoas, segundo balanço divulgado pela assessoria de imprensa da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo às 11h desta segunda-feira.

A situação é mais do que alarmante, o número de mortos e o número de ataques deste final de semana colocam São Paulo no mesmo patamar do Iraque, onde o número de mortos (extra-oficial) em ataques não foi superior a 50, isto porque foi um dos finais de semana mais violentos das últimas semanas no Iraque. A situação é alarmante, assusta e causa pânico na sociedade. A população teme ser atingida, teme pelo poder público não poder conter a força das ações criminosas. Pelo menos seis das empresas de ônibus de São Paulo mantiveram seus veículos nos pátios para evitar depredações, é apenas uma pequena amostra dos efeitos do terror e do medo que as facções criminosas podem provocar na sociedade.

Terror, tensão, incerteza e insegurança. O crime organizado está mostrando sua força, está mostrando sua articulação. Narcotráfico, tráfico de armas, corrupção policial e ausência de efetivas políticas públicas de segurança colaboram para a proliferação do crime e a articulação organizada dos criminosos. Como exemplo do descaso do poder público é possível citar a redução de 28% nos gastos do governo com o Fundo Nacional de Segurança Pública. Segundo o Blog do jornalista Fernando Rodrigues, em 2004, o governo federal desembolsou R$ 380,8 milhões para o Fundo Nacional de Segurança Pública. Em 2005, a cifra caiu para R$ 275,8 milhões. Em 2002, último ano do governo FHC, o governo desembolsou R$ 396 milhões para o fundo, em valores atualizados em março deste ano pela ONG Contas Abertas.

Em relação aos ataques do PCC e às mortes de policiais, o governador do estado de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), declarou, de maneira desagradável, que as retaliações do PCC eram previsíveis e que os efeitos são ínfimos. O governador declarou também que a situação está sob controle e rejeitou intervenção da polícia federal. Em outras desagradáveis declarações do governador, divulgadas pelo site da Veja On-Line, Lembo disse que os advogados dos presos têm grande parcela de responsabilidade na comunicação entre criminosos e anunciou que pretende acabar com o sigilo entre advogados e prisioneiros em suas conversas dentro dos presídios. Além disso, chegou a acusar os advogados de serem responsáveis pela entrada ilegal de telefones celulares nos presídios. O governador ainda atacou a legislação, os advogados e os parentes dos presos dizendo: "é um grande erro, uma lenda, mantida até por parte das autoridades, achar que o celular é o grande problema. Não é o celular coisa nenhuma. São determinados elementos que entram nos nossos presídios, baseados na legislação, e coletam informações, inclusive do mundo exterior".

Lembo parece querer atirar a culpa em outros para livrar a "culpa" do poder público, que é o principal responsável pela desordem da segurança pública. É possível concordar com a possibilidade de encontrarmos "criminosos" que se "disfarçam" de advogados e contribuem para a "empresa" do crime organizado, mas não podemos descartar também a atuação de "criminosos" que se "disfarçam" de policiais, agentes penitenciários, políticos, entre outros corruptos que fazem parte de quadrilhas e colaboram com facções como o PCC. Além do mais, é inadmissível a gravação das conversas entre presos e advogados, conforme salienta o presidente da OAB de São Paulo, Luiz Flávio D’Urso. O presidente da OAB-SP revida as declarações de Lembo dizendo que "o estado tem de assumir seu papel e sua responsabilidade. E o estado não está à altura desse combate. Falhou com o celular, com o bloqueio de sinal do celular nos presídios e falhou na desarticulação da facção criminosa".

As autoridades sabiam das ameaças de ataques do PCC, mas a "desorganização" do Poder Público não foi suficiente para conter a organização da facção criminosa.

A desorganização do Poder Público brasileiro decorre de inúmeras "palhaçadas". O país parece um verdadeiro "picadeiro", um circo, dos mais cômicos e irônicos possíveis de se imaginar. Em termos energéticos, o país atingiu "autosuficiência" em petróleo, mas um louco populista desenfreado latino-americano que ocupa o cargo de presidente da Bolívia deflagrou a recente e famosa "crise do gás" estabanando as glórias da conquista energética. Em brasília, a crise política parece estar sendo superada, embora sempre apareça uma "picuinha" aqui ou ali. Mas o país está diante do "maior escândalo" de corrupção dos últimos tempos, tem dança da pizza ou dança da impunidade para quem achar melhor, tem o Congresso Nacional mais "nojento", "asqueroso", corrupto, fraudulento, farsante, podre e impune que se possa imaginar, tem o "Garotinho fazendo coisa de gente Gandhi", entre outras ironias do cenário político nacional. Por outro lado, tem coletiva de imprensa de técnico da seleção brasileira, tem clima de Copa do Mundo, tem expectativa de hexacampeonato, fazendo com que a população brasileira esqueça as "crises" que tanto atormentam nossas mentes.

Diante de todas as irônias e "palhaçadas" do cenário brasileiro, percebe-se que o "circo" está "pegando fogo". Os ataques do PCC, aliados a outros indicadores (como os ataques e ameaças de Evo Morales), fazem com que se perceba a inépcia e a desarticulação dos políticos, dos governistas, do poder público. O Brasil possui organizações criminosas que governam e comandam muito melhor articuladas do que nossos governistas. As organizações criminosas possuem muito mais harmonia do que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, por exemplo.

Para combater essas crises políticas, energéticas, de segurança, ou seja lá qual for a crise é preciso que haja harmonia entre os políticos e os poderes do Estado. É preciso acabar com essa angústia de oposição criticar governo e de governo criticar oposição e político se vender como prostituta para outro partido e um partido político comprar um outro partido como aliado. O poder público está se desintegrando, os ataques do PCC demonstram isso. Falta planejamento, organização, direção, controle, investimentos, além disso, a legislação brasileira é inadequada e as decisões jurídicas são ineficientes e muitas vezes ineficazes. Tudo isso é fruto de descaso do poder público, descaso dos nossos políticos e governantes e até mesmo descaso da própria população.

O Brasil precisa mudar, o brasileiro precisa mudar. O país está em ano de eleições, o Congresso Nacional está podre e os partidos políticos estão apodrecendo. Enquanto o país passa por inúmeras crises, os políticos enxergam apenas os seus próprios "umbigos", preocupados com seus bolsos, com a imagem de seus partidos políticos, com a imagem de suas candidaturas. Criam uma série de políticas públicas eleitoreiras, mas políticas públicas eficazes e harmônicas não existem. O que se percebe no cenário político brasileiro é um político querendo mais espaço do que o outro, um político atacando o outro, um partido brigando com o outro, uma disputa inesgotável por poder político. Mas não são vistas no cenário político discussões acerca das políticas de segurança, educação, saúde, saneamento, nada, apenas guerras de vaidades e poder. Desse modo, nós, brasileiros, somos largados e entregues aos sopros do acaso, a favor de nossa própria sorte, aos mandos e desmandos de alguns nojentos e corruptos representantes do povo e ainda precisamos conviver com o terror e a ameaça de facções como o PCC.

4 comentários:

Marco Aurélio disse...

Bruno

As ações terroristas do PCC em resposta à decisão do governo estadual de isolar líderes da facção criminosa são o fim da picada. O que falta é o PCC virar um partido de esquerda, pois parece que o PT já virou facção criminosa.

Um abraço

Marco Aurélio

Anônimo disse...

A população brasileira está nas mãos de homens egocêntricos e
desinteressados. Homens cujo padrão de vida e popularidade é colocado
em primeiro plano. "Nossos representantes" são nada mais nada menos que
administradores de caixa. E o que somos nesta história? Nada, ou
melhor, tudo: nós os mantemos. A verdade é que o homen não é
perfeitos. É até admissível que haja erros e problemas em qualquer
organização, seja ela nossa família, seja um partido político, seja
a um poder do Estado. O que é inadimissível é o descaso,
desinteresse, a roubalheira. Talvez seja utópico e até clichê dizer
isso, mas falta humildade. Humildade de reconhecer que somos todos
iguais, não importa em que status nos encontremos. Não existe praga
pior do que o orgulho e a vaidade exarcebada. Ambas corrompem o homem e
fazem dele um simples cérebro sem coração. Como está explícito na
própria Bíblia, "é tudo vaidade e correr atrás do vento".
Engraçado é como existem pessoas que criticam, que vêem os erros,
que ficam indignadas com a situação, mas se mantêm inertes. De que
adianta sermos meros espectadores? Honestamente, não sei se há
saída. As coisas podem até melhorar, mas muito difícil chegarmos a
uma situação de tranquilidade plena. A corrupção já está
impregnada. A praga já se espalhou. Mas.... talvez ainda haja
esperança.

Anônimo disse...

Acho que o título já resumiu tudo: Ataques do PCC: organização criminosa x desorganização do poder público. Tudo é questão de organização. Observe como querer, ter vontade de alcançar algo, faz a diferença. O PCC queria "meter medo" em SP e conseguiu.

"Lembo disse que os advogados dos presos têm grande parcela de responsabilidade na comunicação entre criminosos e anunciou que pretende acabar com o sigilo entre advogados e prisioneiros em suas conversas dentro dos presídios" - Muito boa essa! Grande idéia sr. Governador. Como é bom jogar a culpa para os outros não é? Já admitir a parcela de culpa é tão chatoooo. Putz!

"É um grande erro, uma lenda, mantida até por parte das autoridades, achar que o celular é o grande problema" - Pode não ser o grande erro, mas é um dos. E esses bloqueadores? Na prática eles funcionam tão bem, né? Ahhh, me poupe!

A desorganização do Poder Público brasileiro decorre de inúmeras "palhaçadas". O país parece um verdadeiro "picadeiro" - Antes só parecesse... vale lembrar que nesse ano teremos Copa do Mundo (olha o pão e circo aí, gente!) e logo mais na seqüência... eleições, entre elas, presidenciais. Aí ninguém lembra mais de crise alguma.

"O poder público está se desintegrando, os ataques do PCC demonstram isso. Falta planejamento, organização, direção, controle, investimentos, além disso, a legislação brasileira é inadequada e as decisões jurídicas são ineficientes e muitas vezes ineficazes" - Impressionante, nesse país falta tudo. Como diria um professor meu: "Eu acho arretado!"

Anônimo disse...

A maior organização criminosa do mundo é F.I.F.A..... É ela que manipula através do esporte futebol, uma nação inteira, pessoas com o flagelo da fome e a falta de cultura se deixam iludir por uma partida de futebol, e ainda acreditam que pessoas medíocres como o jogador Neymar possa ser um heroi, a copa do mundo está chegando, e as favelas como fica???